28/10/2008
Christine MacDonald - “Como uma boa causa vai mal”
A jornalista conta por que decidiu escrever um livro criticando o mundo das ONGs ambientais
Andrea Leal, de Washington
Repórter há 17 anos, Christine Mcdonald diz que aceitou um convite para trabalhar na ONG Conservação Internacional (CI) porque queria “servir a uma boa causa”. Quatro meses depois, foi demitida e decidiu escrever o livro Green, Inc. Christine descreve as mordomias, os altos salários e as alianças dos líderes das maiores ONGs verdes do planeta com grandes empresas como Wall-Mart e Shell. Segundo ela, as ONGs seriam fachada para as companhias que mais poluem no mundo.
QUEM É Jornalista em Washington, nos Estados Unidos. Decidiu escrever um livro sobre o mundo das organizações não-governamentais ambientalistas
O QUE FEZFoi repórter dos jornais Boston Globe, Los Angeles Times e Chicago Tribune
ÉPOCA – Por que a senhora foi demitida?
Christine MacDonald – Foi uma reorganização da empresa. Quatro meses depois que eu comecei a trabalhar na CI, eles contrataram uma nova presidente, que decidiu cortar custos.
ÉPOCA – A senhora tem receio de ser acusada de ter escrito o livro por vingança?
Christine – Bom, honestamente, eu não procuraria emprego na CI agora. Quando eu entrei, comecei a perceber ações de maquiagem verde. Se eu ficasse sabendo quando era repórter, dariam uma reportagem de denúncia. Mas tinha acabado de entrar, então tentei agir como parte da equipe. Depois que fui demitida, passei a investigar a história da CI e de outras grandes organizações ambientais. Percebi que aquela maneira de agir era praxe. Foi aí que decidi escrever um livro.
ÉPOCA – A senhora diz que as ONGs põem em xeque sua credibilidade fazendo um mau marketing como se defendessem uma causa. Como assim?
Christine – Na teoria, existe uma parceria entre uma ONG ou um setor do governo e uma empresa, em que todos sairiam ganhando. Na prática, tem sido uma operação meramente financeira, em que uma empresa paga para associar seu nome à ONG. O problema é que os consumidores geralmente não sabem disso. Eles enxergam essa associação como uma prova de que o produto é ambientalmente superior.
ÉPOCA – Outra crítica é a aliança de ONGs com ditaduras e governos que desrespeitam os direitos humanos. Mas como seria possível preservar espécies que só existem em países com esse tipo de governo? Agências da ONU, como o Unicef, também não se relacionam com governos corruptos para ajudar a população?
Christine – O problema é que o relacionamento é sempre com o governo, e não com a população local. É muito mais fácil preservar o meio ambiente sob uma ditadura, e, de fato, há espécies que só podem ser encontradas nesses lugares. Mas será que essas organizações querem mesmo ter seu nome associado a governos que desrespeitam os direitos humanos? E os doadores dessas ONGs também não gostariam de saber disso.
ÉPOCA – A senhora também critica os salários dos dirigentes das ONGs. Diz que o maior passa de US$ 800 mil por ano. São altos, mas são menores do que os que ganhariam em empresas privadas. Como ter profissionais sem pagar bem?
Christine – Você precisa pagar bem, mas não precisa ser tanto. Uma das pessoas que entrevistei faz uma observação importante: há muitos carreiristas no movimento ambiental hoje; eles vão e vêm do setor privado para o Terceiro Setor e para o governo. Se você está preocupado em conseguir um emprego no Wall-Mart quando sair de uma ONG, como um dos executivos que eu cito no livro, então isso afeta substancialmente seu comportamento na organização. Executivos de corporações deveriam ser executivos de corporações e ambientalistas deveriam ser ambientalistas.
ÉPOCA – Não é possível mesmo ser uma ONG séria recebendo dinheiro de empresas? Apenas entidades como o Greenpeace, que não aceitam doações, podem ser consideradas independentes?
Christine – Há organizações como a Diversidade Biológica (dos EUA) que aceitam doações, mas sem se comprometer, sem endossar produtos. Depende dos limites que você impõe. Mas também é muito importante haver organizações como o Greenpeace, que chamamos de vigilantes: confrontam e pressionam as grandes empresas, em vez de se aliar a elas.
Fonte: Judson Barros.
O QUE FEZFoi repórter dos jornais Boston Globe, Los Angeles Times e Chicago Tribune
ÉPOCA – Por que a senhora foi demitida?
Christine MacDonald – Foi uma reorganização da empresa. Quatro meses depois que eu comecei a trabalhar na CI, eles contrataram uma nova presidente, que decidiu cortar custos.
ÉPOCA – A senhora tem receio de ser acusada de ter escrito o livro por vingança?
Christine – Bom, honestamente, eu não procuraria emprego na CI agora. Quando eu entrei, comecei a perceber ações de maquiagem verde. Se eu ficasse sabendo quando era repórter, dariam uma reportagem de denúncia. Mas tinha acabado de entrar, então tentei agir como parte da equipe. Depois que fui demitida, passei a investigar a história da CI e de outras grandes organizações ambientais. Percebi que aquela maneira de agir era praxe. Foi aí que decidi escrever um livro.
ÉPOCA – A senhora diz que as ONGs põem em xeque sua credibilidade fazendo um mau marketing como se defendessem uma causa. Como assim?
Christine – Na teoria, existe uma parceria entre uma ONG ou um setor do governo e uma empresa, em que todos sairiam ganhando. Na prática, tem sido uma operação meramente financeira, em que uma empresa paga para associar seu nome à ONG. O problema é que os consumidores geralmente não sabem disso. Eles enxergam essa associação como uma prova de que o produto é ambientalmente superior.
ÉPOCA – Outra crítica é a aliança de ONGs com ditaduras e governos que desrespeitam os direitos humanos. Mas como seria possível preservar espécies que só existem em países com esse tipo de governo? Agências da ONU, como o Unicef, também não se relacionam com governos corruptos para ajudar a população?
Christine – O problema é que o relacionamento é sempre com o governo, e não com a população local. É muito mais fácil preservar o meio ambiente sob uma ditadura, e, de fato, há espécies que só podem ser encontradas nesses lugares. Mas será que essas organizações querem mesmo ter seu nome associado a governos que desrespeitam os direitos humanos? E os doadores dessas ONGs também não gostariam de saber disso.
ÉPOCA – A senhora também critica os salários dos dirigentes das ONGs. Diz que o maior passa de US$ 800 mil por ano. São altos, mas são menores do que os que ganhariam em empresas privadas. Como ter profissionais sem pagar bem?
Christine – Você precisa pagar bem, mas não precisa ser tanto. Uma das pessoas que entrevistei faz uma observação importante: há muitos carreiristas no movimento ambiental hoje; eles vão e vêm do setor privado para o Terceiro Setor e para o governo. Se você está preocupado em conseguir um emprego no Wall-Mart quando sair de uma ONG, como um dos executivos que eu cito no livro, então isso afeta substancialmente seu comportamento na organização. Executivos de corporações deveriam ser executivos de corporações e ambientalistas deveriam ser ambientalistas.
ÉPOCA – Não é possível mesmo ser uma ONG séria recebendo dinheiro de empresas? Apenas entidades como o Greenpeace, que não aceitam doações, podem ser consideradas independentes?
Christine – Há organizações como a Diversidade Biológica (dos EUA) que aceitam doações, mas sem se comprometer, sem endossar produtos. Depende dos limites que você impõe. Mas também é muito importante haver organizações como o Greenpeace, que chamamos de vigilantes: confrontam e pressionam as grandes empresas, em vez de se aliar a elas.
Fonte: Judson Barros.
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