
Maurício Andrés Ribeiro - Palestra sobre o livro Ecologizar, 4ª edição, lançado na posse do IAB-MG, em Belo Horizonte, em 10 de março de 2010. - www.ecologizar.com.br / mandrib@uol.com.br Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo.
Em 1972 se realizou a conferência de Estocolmo sobre o ambiente humano. Na década de 70 houve as crises do petróleo, que chamaram a atenção para a finitude desse recurso e para a necessidade de se repensar a matriz energética. (Figura – Fritjof Capra)

Nós arquitetos, fomos chamados a pensar a arquitetura bioclimática e o tema da energia e em como projetar com o clima, a ventilação, a iluminação a sombra e o ar na arquitetura tropical.
Diante da crise climática e ambiental, cresceu a consciência da necessidade de agir para neutralizar ou contrabalançar os processos destrutivos que ocorrem no planeta e para evitar custos maiores associados com a não ação. Essa percepção e consciência no Brasil tiveram um primeiro impulso na Rio-92.Em 2007, o tema climático entrou com força na agenda. A partir daquele ano, no mundo todo, houve uma explosão de consciência, induzida pelos relatórios do IPCC Painel Intergovernamental sobre mudanças climáticas que afirmavam que inequivocamente a ação humana as causava; e por filmes que comunicavam de forma clara esses problemas tais como Uma verdade inconveniente, de Al Gore, e O dia depois de amanhã, de Roland Emmerich. O IPCC – Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas identificou na área do ambiente construído grandes possibilidades para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
O tema ambiental deixou de ser periférico, de interesse de uma minoria, por razões de ética ecológica e defesa da vida; passou a ser central, com forte componente econômico e de segurança, pois cresce a percepção dos custos e dos riscos envolvidos com as mudanças climáticas.
Nossa atividade profissional está influenciada por inúmeras forças que a condicionam e das quais pode ser difícil escapar. Há condições de contorno que levam o arquiteto a propor certas soluções. De certa maneira, ele é a ponta de um iceberg que se move a partir de poderosas correntes movidas pelas imobiliárias, as construtoras, a indústria de materiais de construção, as instituições de pesquisa e educacionais; os governos com seus códigos e regulamentos, a mídia que modela o gosto dos clientes dos arquitetos.
Mudar tais condições de contorno é necessário e precisamos estar conscientes de quais são elas.
Cresce a importância da responsabilidade dos arquitetos na gestão da crise ambiental, pois a população mundial, cada vez mais urbanizada, exige respostas criativas para que viva com conforto e com baixa emissão de carbono e de gases de efeito estufa.
Os arquitetos têm possibilidades de atuar nos dois grandes tipos de ações relacionadas com as mudanças climáticas: ações de adaptação e de mitigação. No campo da adaptação, preparando as edificações para resistirem a eventos climáticos cada vez mais fortes e extremos – tufões, ventanias, furacões etc. Frei Rosário, na Serra da piedade, dizia que usava ali o coeficiente monástico de segurança: ele reforçava os ferros e o concreto para evitar que o clima e os ventos danificassem as obras.
Ainda no campo da adaptação é relevante evitar a ocupação do solo em áreas de risco – fundos de vales sujeitos a enchentes e a inundações, encostas íngremes sujeitas a deslizamentos e desmoronamento. E cada vez mais, áreas que não eram de risco passam a ser arriscadas de serem ocupadas. Vimos recentemente as fotos do tsunami no Chile, pós terremoto, que mostram barcos grandes dentro das cidades, arrastados pelas ondas.
Um tema ecosocial é o da exclusão territorial ou espacial. A exclusão dos lugares, pessoas sem lugar no mundo da propriedade privada, sem casa, sem terra, sem teto, sem lugar ao sol - e esse é um tema da maior relevância num país extremamente desigual socialmente como o Brasil. Alem disso, há a questão da acessibilidade física aos prédios e da eliminação de barreiras arquitetônicas para aqueles portadores de necessidades especiais: uma escadinha pode complicar a vida, assim como calçadas esburacadas, transportes públicos inadequados...
No campo da mitigação, ou das medidas e ações para reduzir a emissão de gases de efeito estufa, são relevantes e estão dentro das possibilidades criativas dos arquitetos a arquitetura de baixo carbono, o ecodesign, a arquitetura ecológica, na qual se possa obter condições de conforto ambiental, térmico, luminoso, acústico – com o mínimo de gasto de energia.
Os arquitetos projetam, normalmente, levando em consideração aspectos estéticos e plásticos, aspectos de custos e prazos de execução das obras. Mas precisam cada vez mais ser ecologicamente conscientes de que o seu ato de projetar provoca impactos ambientais, sobre o consumo de energia, sobre o clima. O arquiteto ecologicamente consciente e responsável leva em consideração tais aspectos quando escolhe um partido arquitetônico, quando posiciona a edificação no terreno, quando conhece os ventos dominantes e a direção do sol, quando especifica materiais. Assim também, em todas as operações envolvidas na concepção, no detalhamento de um projeto arquitetônico ou urbanístico e no acompanhamento de sua execução.
Somos membros de uma mesma espécie de homo sapiens, que toma consciência de que suas ações causam impactos, mudam o ambiente e o clima do planeta, passa a ter um papel cada vez mais importante como gestora da evolução.
Nessa condição, podemos usar os conhecimentos profissionais de cada profissão e da nossa, para agirmos de forma ecológica e climaticamente consciente e responsáveis e não sermos levados pelas ondas do mercado.
Como arquitetos, dispomos de um cabedal de conhecimentos e de sensibilidade e criatividade para ajudar a criar o ambiente construído com baixa intensidade de carbono, que provoque o mínimo de impactos ambientais negativos sobre a natureza e sobre o clima. O arquiteto consciente da natureza, o arquiteto que faz arquitetura como cultura – não apenas a arquitetura do passado como nossas cidades históricas, Ouro Preto, Tiradentes – são patrimônio cultural, mas também a arquitetura que se faz hoje é cultura. E não pode ser apenas reduzida a mercadoria com valor econômico no mercado imobiliário.
As cidades e o ambiente construído vêm sendo reduzidos à sua dimensão econômica e imobiliária. Eles precisam ser vistos como produtos culturais e sua qualidade ser valorizada. Especialmente nesse início do século XXI, a crise climática, ecológica e ambiental nos chama para darmos nossa contribuição na construção de respostas criativas para os mega problemas com que nos defrontamos.
Podemos aprender com a arquitetura que se fazia no período pré energia elétrica – a arquitetura colonial mineira, a arquitetura indígena nos inspiram com conceitos e soluções que podem ser conhecidas e cujos princípios podem ser aplicados na arquitetura contemporânea.
Não vivemos mais num mundo de energia abundante e barata como aquele percebido na primeira metade do século XX que produziu a arquitetura moderna. Vivemos num mundo marcado pela crise climática e ecológica, pelo adensamento demográfico, pela explosão urbana e precisamos aprender a fazer uma arquitetura e um urbanismo que dêem respostas criativas aos desafios do século XXI.
Os arquitetos têm um papel importante na ecologização da produção das cidades, para que possamos profissionalmente contribuir para enfrentar o desafio ecológico com que nos defrontamos nesse momento de nossa evolução sobre o planeta Terra.
Fonte:http://www.portaldomeioambiente.org.br/coluna-mauricio-andres-ribeiro/3490-o-arquiteto-e-a-crise-ambiental-e-climatica-.html
Diante da crise climática e ambiental, cresceu a consciência da necessidade de agir para neutralizar ou contrabalançar os processos destrutivos que ocorrem no planeta e para evitar custos maiores associados com a não ação. Essa percepção e consciência no Brasil tiveram um primeiro impulso na Rio-92.Em 2007, o tema climático entrou com força na agenda. A partir daquele ano, no mundo todo, houve uma explosão de consciência, induzida pelos relatórios do IPCC Painel Intergovernamental sobre mudanças climáticas que afirmavam que inequivocamente a ação humana as causava; e por filmes que comunicavam de forma clara esses problemas tais como Uma verdade inconveniente, de Al Gore, e O dia depois de amanhã, de Roland Emmerich. O IPCC – Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas identificou na área do ambiente construído grandes possibilidades para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
O tema ambiental deixou de ser periférico, de interesse de uma minoria, por razões de ética ecológica e defesa da vida; passou a ser central, com forte componente econômico e de segurança, pois cresce a percepção dos custos e dos riscos envolvidos com as mudanças climáticas.
Nossa atividade profissional está influenciada por inúmeras forças que a condicionam e das quais pode ser difícil escapar. Há condições de contorno que levam o arquiteto a propor certas soluções. De certa maneira, ele é a ponta de um iceberg que se move a partir de poderosas correntes movidas pelas imobiliárias, as construtoras, a indústria de materiais de construção, as instituições de pesquisa e educacionais; os governos com seus códigos e regulamentos, a mídia que modela o gosto dos clientes dos arquitetos.

Cresce a importância da responsabilidade dos arquitetos na gestão da crise ambiental, pois a população mundial, cada vez mais urbanizada, exige respostas criativas para que viva com conforto e com baixa emissão de carbono e de gases de efeito estufa.
Os arquitetos têm possibilidades de atuar nos dois grandes tipos de ações relacionadas com as mudanças climáticas: ações de adaptação e de mitigação. No campo da adaptação, preparando as edificações para resistirem a eventos climáticos cada vez mais fortes e extremos – tufões, ventanias, furacões etc. Frei Rosário, na Serra da piedade, dizia que usava ali o coeficiente monástico de segurança: ele reforçava os ferros e o concreto para evitar que o clima e os ventos danificassem as obras.
Ainda no campo da adaptação é relevante evitar a ocupação do solo em áreas de risco – fundos de vales sujeitos a enchentes e a inundações, encostas íngremes sujeitas a deslizamentos e desmoronamento. E cada vez mais, áreas que não eram de risco passam a ser arriscadas de serem ocupadas. Vimos recentemente as fotos do tsunami no Chile, pós terremoto, que mostram barcos grandes dentro das cidades, arrastados pelas ondas.


No campo da mitigação, ou das medidas e ações para reduzir a emissão de gases de efeito estufa, são relevantes e estão dentro das possibilidades criativas dos arquitetos a arquitetura de baixo carbono, o ecodesign, a arquitetura ecológica, na qual se possa obter condições de conforto ambiental, térmico, luminoso, acústico – com o mínimo de gasto de energia.
Os arquitetos projetam, normalmente, levando em consideração aspectos estéticos e plásticos, aspectos de custos e prazos de execução das obras. Mas precisam cada vez mais ser ecologicamente conscientes de que o seu ato de projetar provoca impactos ambientais, sobre o consumo de energia, sobre o clima. O arquiteto ecologicamente consciente e responsável leva em consideração tais aspectos quando escolhe um partido arquitetônico, quando posiciona a edificação no terreno, quando conhece os ventos dominantes e a direção do sol, quando especifica materiais. Assim também, em todas as operações envolvidas na concepção, no detalhamento de um projeto arquitetônico ou urbanístico e no acompanhamento de sua execução.
Somos membros de uma mesma espécie de homo sapiens, que toma consciência de que suas ações causam impactos, mudam o ambiente e o clima do planeta, passa a ter um papel cada vez mais importante como gestora da evolução.
Nessa condição, podemos usar os conhecimentos profissionais de cada profissão e da nossa, para agirmos de forma ecológica e climaticamente consciente e responsáveis e não sermos levados pelas ondas do mercado.
Como arquitetos, dispomos de um cabedal de conhecimentos e de sensibilidade e criatividade para ajudar a criar o ambiente construído com baixa intensidade de carbono, que provoque o mínimo de impactos ambientais negativos sobre a natureza e sobre o clima. O arquiteto consciente da natureza, o arquiteto que faz arquitetura como cultura – não apenas a arquitetura do passado como nossas cidades históricas, Ouro Preto, Tiradentes – são patrimônio cultural, mas também a arquitetura que se faz hoje é cultura. E não pode ser apenas reduzida a mercadoria com valor econômico no mercado imobiliário.
As cidades e o ambiente construído vêm sendo reduzidos à sua dimensão econômica e imobiliária. Eles precisam ser vistos como produtos culturais e sua qualidade ser valorizada. Especialmente nesse início do século XXI, a crise climática, ecológica e ambiental nos chama para darmos nossa contribuição na construção de respostas criativas para os mega problemas com que nos defrontamos.
Podemos aprender com a arquitetura que se fazia no período pré energia elétrica – a arquitetura colonial mineira, a arquitetura indígena nos inspiram com conceitos e soluções que podem ser conhecidas e cujos princípios podem ser aplicados na arquitetura contemporânea.
Não vivemos mais num mundo de energia abundante e barata como aquele percebido na primeira metade do século XX que produziu a arquitetura moderna. Vivemos num mundo marcado pela crise climática e ecológica, pelo adensamento demográfico, pela explosão urbana e precisamos aprender a fazer uma arquitetura e um urbanismo que dêem respostas criativas aos desafios do século XXI.
Os arquitetos têm um papel importante na ecologização da produção das cidades, para que possamos profissionalmente contribuir para enfrentar o desafio ecológico com que nos defrontamos nesse momento de nossa evolução sobre o planeta Terra.

Fonte:http://www.portaldomeioambiente.org.br/coluna-mauricio-andres-ribeiro/3490-o-arquiteto-e-a-crise-ambiental-e-climatica-.html
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