Qua, 10/Mar/2010 01:06 Maurício Andrés Ribeiro
Maurício Andrés Ribeiro - Palestra sobre o livro Ecologizar, 4ª edição, lançado na posse do IAB-MG, em Belo Horizonte, em 10 de março de 2010. - www.ecologizar.com.br / mandrib@uol.com.br Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo.
Em 1972 se realizou a conferência de Estocolmo sobre o ambiente humano. Na década de 70 houve as crises do petróleo, que chamaram a atenção para a finitude desse recurso e para a necessidade de se repensar a matriz energética. (Figura – Fritjof Capra)
Maurício Andrés Ribeiro - Palestra sobre o livro Ecologizar, 4ª edição, lançado na posse do IAB-MG, em Belo Horizonte, em 10 de março de 2010. - www.ecologizar.com.br / mandrib@uol.com.br Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo.
Em 1972 se realizou a conferência de Estocolmo sobre o ambiente humano. Na década de 70 houve as crises do petróleo, que chamaram a atenção para a finitude desse recurso e para a necessidade de se repensar a matriz energética. (Figura – Fritjof Capra)
Nós arquitetos, fomos chamados a pensar a arquitetura bioclimática e o tema da energia e em como projetar com o clima, a ventilação, a iluminação a sombra e o ar na arquitetura tropical.
Diante da crise climática e ambiental, cresceu a consciência da necessidade de agir para neutralizar ou contrabalançar os processos destrutivos que ocorrem no planeta e para evitar custos maiores associados com a não ação. Essa percepção e consciência no Brasil tiveram um primeiro impulso na Rio-92.Em 2007, o tema climático entrou com força na agenda. A partir daquele ano, no mundo todo, houve uma explosão de consciência, induzida pelos relatórios do IPCC Painel Intergovernamental sobre mudanças climáticas que afirmavam que inequivocamente a ação humana as causava; e por filmes que comunicavam de forma clara esses problemas tais como Uma verdade inconveniente, de Al Gore, e O dia depois de amanhã, de Roland Emmerich. O IPCC – Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas identificou na área do ambiente construído grandes possibilidades para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
O tema ambiental deixou de ser periférico, de interesse de uma minoria, por razões de ética ecológica e defesa da vida; passou a ser central, com forte componente econômico e de segurança, pois cresce a percepção dos custos e dos riscos envolvidos com as mudanças climáticas.
Nossa atividade profissional está influenciada por inúmeras forças que a condicionam e das quais pode ser difícil escapar. Há condições de contorno que levam o arquiteto a propor certas soluções. De certa maneira, ele é a ponta de um iceberg que se move a partir de poderosas correntes movidas pelas imobiliárias, as construtoras, a indústria de materiais de construção, as instituições de pesquisa e educacionais; os governos com seus códigos e regulamentos, a mídia que modela o gosto dos clientes dos arquitetos. Mudar tais condições de contorno é necessário e precisamos estar conscientes de quais são elas.
Cresce a importância da responsabilidade dos arquitetos na gestão da crise ambiental, pois a população mundial, cada vez mais urbanizada, exige respostas criativas para que viva com conforto e com baixa emissão de carbono e de gases de efeito estufa.
Os arquitetos têm possibilidades de atuar nos dois grandes tipos de ações relacionadas com as mudanças climáticas: ações de adaptação e de mitigação. No campo da adaptação, preparando as edificações para resistirem a eventos climáticos cada vez mais fortes e extremos – tufões, ventanias, furacões etc. Frei Rosário, na Serra da piedade, dizia que usava ali o coeficiente monástico de segurança: ele reforçava os ferros e o concreto para evitar que o clima e os ventos danificassem as obras.
Ainda no campo da adaptação é relevante evitar a ocupação do solo em áreas de risco – fundos de vales sujeitos a enchentes e a inundações, encostas íngremes sujeitas a deslizamentos e desmoronamento. E cada vez mais, áreas que não eram de risco passam a ser arriscadas de serem ocupadas. Vimos recentemente as fotos do tsunami no Chile, pós terremoto, que mostram barcos grandes dentro das cidades, arrastados pelas ondas.
Um tema ecosocial é o da exclusão territorial ou espacial. A exclusão dos lugares, pessoas sem lugar no mundo da propriedade privada, sem casa, sem terra, sem teto, sem lugar ao sol - e esse é um tema da maior relevância num país extremamente desigual socialmente como o Brasil. Alem disso, há a questão da acessibilidade física aos prédios e da eliminação de barreiras arquitetônicas para aqueles portadores de necessidades especiais: uma escadinha pode complicar a vida, assim como calçadas esburacadas, transportes públicos inadequados...
No campo da mitigação, ou das medidas e ações para reduzir a emissão de gases de efeito estufa, são relevantes e estão dentro das possibilidades criativas dos arquitetos a arquitetura de baixo carbono, o ecodesign, a arquitetura ecológica, na qual se possa obter condições de conforto ambiental, térmico, luminoso, acústico – com o mínimo de gasto de energia.
Os arquitetos projetam, normalmente, levando em consideração aspectos estéticos e plásticos, aspectos de custos e prazos de execução das obras. Mas precisam cada vez mais ser ecologicamente conscientes de que o seu ato de projetar provoca impactos ambientais, sobre o consumo de energia, sobre o clima. O arquiteto ecologicamente consciente e responsável leva em consideração tais aspectos quando escolhe um partido arquitetônico, quando posiciona a edificação no terreno, quando conhece os ventos dominantes e a direção do sol, quando especifica materiais. Assim também, em todas as operações envolvidas na concepção, no detalhamento de um projeto arquitetônico ou urbanístico e no acompanhamento de sua execução.
Somos membros de uma mesma espécie de homo sapiens, que toma consciência de que suas ações causam impactos, mudam o ambiente e o clima do planeta, passa a ter um papel cada vez mais importante como gestora da evolução.
Nessa condição, podemos usar os conhecimentos profissionais de cada profissão e da nossa, para agirmos de forma ecológica e climaticamente consciente e responsáveis e não sermos levados pelas ondas do mercado.
Como arquitetos, dispomos de um cabedal de conhecimentos e de sensibilidade e criatividade para ajudar a criar o ambiente construído com baixa intensidade de carbono, que provoque o mínimo de impactos ambientais negativos sobre a natureza e sobre o clima. O arquiteto consciente da natureza, o arquiteto que faz arquitetura como cultura – não apenas a arquitetura do passado como nossas cidades históricas, Ouro Preto, Tiradentes – são patrimônio cultural, mas também a arquitetura que se faz hoje é cultura. E não pode ser apenas reduzida a mercadoria com valor econômico no mercado imobiliário.
As cidades e o ambiente construído vêm sendo reduzidos à sua dimensão econômica e imobiliária. Eles precisam ser vistos como produtos culturais e sua qualidade ser valorizada. Especialmente nesse início do século XXI, a crise climática, ecológica e ambiental nos chama para darmos nossa contribuição na construção de respostas criativas para os mega problemas com que nos defrontamos.
Podemos aprender com a arquitetura que se fazia no período pré energia elétrica – a arquitetura colonial mineira, a arquitetura indígena nos inspiram com conceitos e soluções que podem ser conhecidas e cujos princípios podem ser aplicados na arquitetura contemporânea.
Não vivemos mais num mundo de energia abundante e barata como aquele percebido na primeira metade do século XX que produziu a arquitetura moderna. Vivemos num mundo marcado pela crise climática e ecológica, pelo adensamento demográfico, pela explosão urbana e precisamos aprender a fazer uma arquitetura e um urbanismo que dêem respostas criativas aos desafios do século XXI.
Os arquitetos têm um papel importante na ecologização da produção das cidades, para que possamos profissionalmente contribuir para enfrentar o desafio ecológico com que nos defrontamos nesse momento de nossa evolução sobre o planeta Terra.
Fonte:http://www.portaldomeioambiente.org.br/coluna-mauricio-andres-ribeiro/3490-o-arquiteto-e-a-crise-ambiental-e-climatica-.html
Diante da crise climática e ambiental, cresceu a consciência da necessidade de agir para neutralizar ou contrabalançar os processos destrutivos que ocorrem no planeta e para evitar custos maiores associados com a não ação. Essa percepção e consciência no Brasil tiveram um primeiro impulso na Rio-92.Em 2007, o tema climático entrou com força na agenda. A partir daquele ano, no mundo todo, houve uma explosão de consciência, induzida pelos relatórios do IPCC Painel Intergovernamental sobre mudanças climáticas que afirmavam que inequivocamente a ação humana as causava; e por filmes que comunicavam de forma clara esses problemas tais como Uma verdade inconveniente, de Al Gore, e O dia depois de amanhã, de Roland Emmerich. O IPCC – Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas identificou na área do ambiente construído grandes possibilidades para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
O tema ambiental deixou de ser periférico, de interesse de uma minoria, por razões de ética ecológica e defesa da vida; passou a ser central, com forte componente econômico e de segurança, pois cresce a percepção dos custos e dos riscos envolvidos com as mudanças climáticas.
Nossa atividade profissional está influenciada por inúmeras forças que a condicionam e das quais pode ser difícil escapar. Há condições de contorno que levam o arquiteto a propor certas soluções. De certa maneira, ele é a ponta de um iceberg que se move a partir de poderosas correntes movidas pelas imobiliárias, as construtoras, a indústria de materiais de construção, as instituições de pesquisa e educacionais; os governos com seus códigos e regulamentos, a mídia que modela o gosto dos clientes dos arquitetos. Mudar tais condições de contorno é necessário e precisamos estar conscientes de quais são elas.
Cresce a importância da responsabilidade dos arquitetos na gestão da crise ambiental, pois a população mundial, cada vez mais urbanizada, exige respostas criativas para que viva com conforto e com baixa emissão de carbono e de gases de efeito estufa.
Os arquitetos têm possibilidades de atuar nos dois grandes tipos de ações relacionadas com as mudanças climáticas: ações de adaptação e de mitigação. No campo da adaptação, preparando as edificações para resistirem a eventos climáticos cada vez mais fortes e extremos – tufões, ventanias, furacões etc. Frei Rosário, na Serra da piedade, dizia que usava ali o coeficiente monástico de segurança: ele reforçava os ferros e o concreto para evitar que o clima e os ventos danificassem as obras.
Ainda no campo da adaptação é relevante evitar a ocupação do solo em áreas de risco – fundos de vales sujeitos a enchentes e a inundações, encostas íngremes sujeitas a deslizamentos e desmoronamento. E cada vez mais, áreas que não eram de risco passam a ser arriscadas de serem ocupadas. Vimos recentemente as fotos do tsunami no Chile, pós terremoto, que mostram barcos grandes dentro das cidades, arrastados pelas ondas.
Um tema ecosocial é o da exclusão territorial ou espacial. A exclusão dos lugares, pessoas sem lugar no mundo da propriedade privada, sem casa, sem terra, sem teto, sem lugar ao sol - e esse é um tema da maior relevância num país extremamente desigual socialmente como o Brasil. Alem disso, há a questão da acessibilidade física aos prédios e da eliminação de barreiras arquitetônicas para aqueles portadores de necessidades especiais: uma escadinha pode complicar a vida, assim como calçadas esburacadas, transportes públicos inadequados...
No campo da mitigação, ou das medidas e ações para reduzir a emissão de gases de efeito estufa, são relevantes e estão dentro das possibilidades criativas dos arquitetos a arquitetura de baixo carbono, o ecodesign, a arquitetura ecológica, na qual se possa obter condições de conforto ambiental, térmico, luminoso, acústico – com o mínimo de gasto de energia.
Os arquitetos projetam, normalmente, levando em consideração aspectos estéticos e plásticos, aspectos de custos e prazos de execução das obras. Mas precisam cada vez mais ser ecologicamente conscientes de que o seu ato de projetar provoca impactos ambientais, sobre o consumo de energia, sobre o clima. O arquiteto ecologicamente consciente e responsável leva em consideração tais aspectos quando escolhe um partido arquitetônico, quando posiciona a edificação no terreno, quando conhece os ventos dominantes e a direção do sol, quando especifica materiais. Assim também, em todas as operações envolvidas na concepção, no detalhamento de um projeto arquitetônico ou urbanístico e no acompanhamento de sua execução.
Somos membros de uma mesma espécie de homo sapiens, que toma consciência de que suas ações causam impactos, mudam o ambiente e o clima do planeta, passa a ter um papel cada vez mais importante como gestora da evolução.
Nessa condição, podemos usar os conhecimentos profissionais de cada profissão e da nossa, para agirmos de forma ecológica e climaticamente consciente e responsáveis e não sermos levados pelas ondas do mercado.
Como arquitetos, dispomos de um cabedal de conhecimentos e de sensibilidade e criatividade para ajudar a criar o ambiente construído com baixa intensidade de carbono, que provoque o mínimo de impactos ambientais negativos sobre a natureza e sobre o clima. O arquiteto consciente da natureza, o arquiteto que faz arquitetura como cultura – não apenas a arquitetura do passado como nossas cidades históricas, Ouro Preto, Tiradentes – são patrimônio cultural, mas também a arquitetura que se faz hoje é cultura. E não pode ser apenas reduzida a mercadoria com valor econômico no mercado imobiliário.
As cidades e o ambiente construído vêm sendo reduzidos à sua dimensão econômica e imobiliária. Eles precisam ser vistos como produtos culturais e sua qualidade ser valorizada. Especialmente nesse início do século XXI, a crise climática, ecológica e ambiental nos chama para darmos nossa contribuição na construção de respostas criativas para os mega problemas com que nos defrontamos.
Podemos aprender com a arquitetura que se fazia no período pré energia elétrica – a arquitetura colonial mineira, a arquitetura indígena nos inspiram com conceitos e soluções que podem ser conhecidas e cujos princípios podem ser aplicados na arquitetura contemporânea.
Não vivemos mais num mundo de energia abundante e barata como aquele percebido na primeira metade do século XX que produziu a arquitetura moderna. Vivemos num mundo marcado pela crise climática e ecológica, pelo adensamento demográfico, pela explosão urbana e precisamos aprender a fazer uma arquitetura e um urbanismo que dêem respostas criativas aos desafios do século XXI.
Os arquitetos têm um papel importante na ecologização da produção das cidades, para que possamos profissionalmente contribuir para enfrentar o desafio ecológico com que nos defrontamos nesse momento de nossa evolução sobre o planeta Terra.
Fonte:http://www.portaldomeioambiente.org.br/coluna-mauricio-andres-ribeiro/3490-o-arquiteto-e-a-crise-ambiental-e-climatica-.html
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