terça-feira, 21 de abril de 2009

A ecologia não é compatível com o capitalismo’, diz ativista francês

20/4/2009
Em um chat no Le Monde, 25-03-2009, José Bové, que encabeça a lista do sudoeste [da França] para as eleições europeias, calcula que só a junção Europa-Ecologia pode responder à atual “crise socioecológica do capitalismo”. A tradução é do Cepat.
Leon: Por que preferir a união dos ecologistas na frente de esquerda?
José Bové: Eu creio que o que hoje importa – e o vemos com a crise – é que nos damos conta de que a solução para a crise, e sua urgência, impõem que se responda à desorientação de milhões de pessoas que se encontram sem emprego, e portanto, sem recursos. E ao mesmo tempo, esta crise, que não é simplesmente social e econômica, é uma crise total do nosso modelo de desenvolvimento.
É o que nós chamamos de crise socioecológica do capitalismo. A partir desta constatação fica hoje evidente que a aproximação da reunião Europa-Ecologia é a única diretamente capaz de responder a estes dois níveis de crise. E, além disso, no conjunto dos componentes da Europa-Ecologia, o conjuntos dos participantes estão de acordo sobre esta análise, o que fez com que eu me engajasse nesta frente.
Archie: Como militante de suas campanhas e inclusive a presidencial, eu não entendo como você pode conciliar a ecologia com uma lista Europa-Ecologia, cujo centro político é o liberalismo com efeitos devastadores?
Eu creio que esta é uma visão caricatural que está sendo propagada da Europa-Ecologia. Com efeito, hoje, os ecologistas são os únicos que se engajaram numa luta para cassar Barroso da Comissão de Bruxelas. Em base a elementos não simplesmente ligados à ecologia, mas primeiramente sobre sua atitude em relação à desregulamentação social e em relação à colocação em risco dos direitos dos trabalhadores europeus e à sua vontade de querer desmantelar os serviços públicos.
Da mesma maneira, os parlamentares Verdes europeus, dos quais Daniel Cohn-Bendit é o co-presidente, querem a saída de Barroso também porque ele quis impor acordos de livre comércio com os países do Sul, e por ter forçado a extensão da política de livre comércio. Portanto, está claro hoje que a Europa-Ecologia, como eu sempre tenho dito, denuncia, denuncia através das crises atuais, o modelo capitalista nos seus desgastes sociais e ecológicos.
Melanie_Monjean: A questão ecológica ultrapassa as clivagens políticas?
Eu creio que a tomada de consciência em relação aos estragos causados hoje ao Planeta pode ser levada em consideração por todos os cidadãos, qualquer que seja sua pertença ou sua preferência política. Mas, a simples constatação não basta para dar respostas. E o modelo liberal, como este atual apoiado pela maioria na França ou na Europa, não responde à crise e não permite a saída dela.
David_Miodownick: Você acredita num eco-capitalismo?
De maneira muito clara, para mim a ecologia não é compatível com o capitalismo. Todas as ideologias produtivistas, tanto de direita como de esquerda, e os riscos ligados a este modelo, com o aquecimento climático que se acelera, mostram que é preciso mudar a lógica para repensar o futuro.
Isidore_le_bien-hereux: Ao entrar na arena política, você não está em vias de renunciar àquilo que é a sua especificidade, isto é, ocupar o terreno social?
Durante trinta anos, eu fui sindicalista, eu estive na origem da Confederação de Agricultores, fui porta-voz desta organização durante muitos anos, e assumi responsabilidades em nível internacional na Via Campesina. Hoje, me parece indispensável que os mais antigos que assumiram responsabilidades desse tipo assumam também a possibilidade de mudar as regras do jogo em nível europeu.
No que me diz respeito diretamente em relação à minha vida, a questão da política agrícola comum, que deve ser modificada em 2013, não pode me deixar indiferente. Nós temos uma chance histórica de reorientar a política agrícola da alimentação, e, assim também o futuro também da biodiversidade no continente europeu. Não se trata simplesmente de uma questão de melhoramento das políticas atuais, é isto sim, a necessidade de dar as costas ao modelo produtivista agrícola que eliminou milhões de agricultores, destruiu a qualidade dos alimentos e saqueou o ambiente. Além disso, é uma necessidade em relação ao futuro dos agricultores dos países do Sul, vítimas do dumping econômico. É, para mim, uma questão fundamental, e eu não posso ficar de braços cruzados.
David_Miodownick: Para você, Nicolas Hulot é um verdadeiro ecologista ou um aproveitador do espetáculo de cores ambiental?
Eu não gosto muito de falar dos outros. Contudo, eu conheço Nicolas Hulot há muitos anos e pude ver a evolução de seus posicionamentos, e devo reconhecer que em janeiro de 2008, quando fazíamos a greve de fome para conseguir a moratória sobre a cultura do milho transgênico, Nicolas Hulot não apenas nos apoiou, como se comprometeu de maneira muito firme com essa luta. Para mim, são os atos que contam, e é isso que me parece o mais importante.
Isidore_le_bien-hereux: A que você atribui a pouca credibilidade que os franceses dão, em termos eleitorais, aos movimentos ecológicos?
Eu não sei a partir de quais critérios você usa para esta afirmação, porque vemos em cada eleição local, comunal, regional, os ecologistas têm sempre bons resultados. Assim como em cada eleição os Verdes – e agora Europa-Ecologia – têm resultados que ultrapassam muitas vezes o que alguns observadores preveem. Eu creio que existe uma verdadeira tomada de consciência entre os cidadãos sobre essas questões de urgência ecológica e que, nas eleições desse tipo, os eleitores confiam nos ecologistas para contribuir com soluções para essas questões.
_resk1: Você se sempre declarou com sendo da esquerda libertária, mas você não foi entendido (completamente?) no caso de Tarnac. Por quê?
Eu dei, nos primeiros dias depois do estouro do caso de Tarnac, meu apoio e não é meu costume tomar o lugar daqueles que estão na luta. Por outro lado, eu sempre estou pronto para responder a qualquer apelo que me for feito para ampliar o movimento.
Eu me escandalizo com o fato de que uma pessoa ainda seja presa quando tudo indica que nós fomos levados a um engano organizado pelo Ministério do Interior para tentar justificar a tese terrorista. Através do caso de Tarnac, e também através de muitos outros atentados às liberdades, assistimos atualmente a uma degradação dos direitos humanos e a uma política de mais e mais segurança baseada no medo e na estigmatização.
Pims: Ao passo que diminui, você é a favor de um aumento do poder de compra?
Em relação à questão do poder de compra, eu creio que é indispensável colocar em prática medidas pontuais para o poder de compra, para permitir aos trabalhadores de salários mais baixos e às pessoas que se beneficiam de mínimos sociais ou de aposentadorias irrisórias de poder viver decentemente. Igualmente, é preciso colocar em prática uma moratória sobre as expulsões de moradias e uma proteção reforçada dos trabalhadores atualmente ameaçados de perder o emprego, porque eles não são responsáveis pela crise.
Eu gostaria, apesar de tudo, dar uma outra pista que é a respeito do fato de que se os sucessivos governos desse país nos últimos dez anos tivessem colocado em prática proposições ecologistas, poderíamos ter dividido por dois a fatura do aquecimento e dos combustíveis utilizados nas casas. As famílias poderiam ter economizado 36 milhões de euros, isto, 1,5 vez o plano de retomada de Sarkozy. Eu digo isso para mostrar que em situações de crise, necessita-se de respostas urgentes, mas que é preciso ao mesmo tempo prever a reconversão da economia e do modelo no qual nós vivemos.
Laure_1: O que você pensa das promessas de Barack Obama em matéria de proteção ambiental?
No momento, os dois elementos que parecem positivos são: em primeiro lugar, o fato de que o presidente dos Estados Unidos queira aceitar os acordos internacionais e participar de Kyoto e da Conferência de Copenhague. O segundo elemento positivo, são as declarações do presidente sobre o desenvolvimento massivo das energias renováveis, especialmente solar e eólica. Esses são os aspectos positivos.
Hoje, penso que é urgente que todos os cidadãos se mobilizem em vista das negociações de Copenhague, em dezembro próximo. Penso que essa será a cúpula mais importante desses últimos dez anos. Para o futuro do planeta, Copenhague é tão importante quanto Seattle em 1999. E a responsabilidade dos países industrializados, da Europa e da América do Norte, deve ser cobrada. Com efeito, os países ricos, que têm apenas 20% da população mundial, são responsáveis por 75% das emissões de gás de efeito estufa. É preciso, pois, que os países ricos assumam sua responsabilidade e a mutação de sua economia, e reconheçam através de acordos sua responsabilidade frente aos países do Sul.
Melanie_Monjean: O que você responde àqueles que reprovam o seu “circo midiático”?
É, hoje, difícil de responder a essa questão. Eu sempre me comprometi com ações de rosto descoberto e assumindo meus atos. E para que uma ação possa ter a capacidade de mudar uma situação, é preciso que se possa partilhar as razões da nossa mobilização com o maior número de pessoas. Eu não creio que seja necessário recusar a possibilidade de ter o eco mais amplo possível através dos meios de comunicação que existem.
cerrumios: Onde está a sua implicação nos atos de destruição do milho transgênico? Você é visto menos aí nesses últimos tempos...
Desde janeiro de 2008, foi tomada uma moratória das culturas de milho OGMs em campo aberto. Isso significa que para a safra 2008, e agora 2009, não há mais milho comercial OGM em campo aberto. Da mesma maneira, depois da última destruição de uma lavoura de milho OGM em Valdivienne, em agosto de 2008, não há mais experimentos em campo aberto autorizados em território francês. Com efeito, graças aos recursos que nós efetuamos no Conselho de Estado, todos os experimentos foram considerados inválidos pela jurisdição administrativa. Portanto, é lógico que nós não temos mais novas ações a propor, uma vez que não há OGMs que vão ser plantados em 2009 em terras francesas, nem comerciais nem experimentais por parte das empresas.
Entretanto, um novo risco está para surgir; é o ajuste de algumas empresas agroquímicas às novas variedades de colza e de girassol resistentes a um herbicida obtidas não por transgenia, mas por mutagênese. O risco ambiental é o mesmo, mas aqui, como para os OMGs há dez anos, não houve nenhum debate. Isso, para nós, é inaceitável.
Ilpiccolino: Nesses tempos confusos, em que a sobrevivência econômica torna-se prioritária para cada vez mais pessoas, você não acredita que a ecologia esteja sendo posta de lado?
De acordo com muitas as pessoas que eu encontro e as discussões que posso ter, inclusive nos transportes públicos, hoje, para muitas pessoas, parece evidente fazer a ligação entre a crise do poder de compra e a crise ligada à ameaça climática, por exemplo. Todos se situam em relação a si, mas também em relação aos filhos ou aos seus netos, e todas as pessoas me dizem que efetivamente há a necessidade de questionar esse modelo de desenvolvimento e desse modo de vida que nos joga contra o muro.
Djulian59: Se você fosse eleito deputado europeu, iria aderir ao Partido Verde? Como vislumbra uma atividade de eleito em relação a um mandato sindical?
Em primeiro lugar, antes de me candidatar, eu deixei todos os meus cargos sindicais, e especialmente, em outubro de 2008, meu cargo de porta-voz para a soberania alimentar na Via Campesina. Com efeito, não é preciso misturar as coisas, e é preciso assumir a mudança de maneira de agir. Se eu for eleito, como espero que aconteça, com ao menos outros dez candidatos do Europa-Ecologia, evidentemente, eu vou aderir ao grupo parlamentar dos Verdes europeus, que está aliado também com os eleitos regionalistas europeus. É uma escolha que seguramente foi feita pelo conjunto dos candidatos do Europa-Ecologia.
Entretanto, nós trabalharemos para tentar, como sempre digo, conseguir alianças para responder às crises e para lançar a ideia da realização de uma assembleia constituinte para construir efetivamente a Europa democrática que desejamos ter. Para nós, é indispensável que a Europa se transforme e que os cidadãos europeus possam, por meio da convocação de uma Constituinte, que será proposta pelo Parlamento Europeu, agir e votar para uma verdadeira transformação da Europa.
Cadastro de agrotóxico é burocrático, diz especialistaEstudo da Anvisa detectou a presença de defensivos irregulares nas amostras dos 17 produtos analisadosOs produtores de hortifrúti do País muitas vezes têm de recorrer ao uso de agrotóxicos não permitidos por falta de opção, afirmam especialistas. O cadastro de agrotóxico deve ser repetido para cada cultura e praga. Estudo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgado na quinta-feira, 16, detectou a presença de defensivos irregulares nas amostras dos 17 produtos analisados. Mas, com exceção da substância encontrada no abacaxi - o ometoato - todas têm o uso aprovado no País para outras culturas.
Jornal O Estado de S. Paulo
O pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e membro da Associação Brasileira de Horticultura (ABH) Wilson Tivelli explica que a lei que regulamentou o uso de agrotóxicos no Brasil, em 1989, determinou que os fabricantes de defensivos agrícolas teriam de realizar um registro diferente para o uso em cada cultura e contra cada praga. "Isso representa um custo extra para a empresa, que acaba optando por registrar seu produto apenas para as culturas de maior demanda."
Segundo José Otávio Menten, diretor executivo da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), que congrega as produtoras de agrotóxicos, quando a empresa registra um produto, ela também fica responsável por acompanhar a cadeia produtiva e garantir que seu uso seja correto. "Isso dificulta o esforço para ampliar o registro, pois muitas vezes não há compensação financeira." A solução, segundo Menten, seria flexibilizar a legislação, permitido o registro do agrotóxico não apenas para uma cultura de cada vez, mas para um grupo de culturas semelhantes. Tivelli também é favorável à medida.
Agora EUA adimte que Gás carbônico é poluenteAgora é oficial. O gás carbônico (CO2) e outros cinco gases de efeito estufa foram decretados poluentes nos EUA, o que obriga pela primeira vez o maior responsável pelo aquecimento global a regular suas emissões.
Folha de S. Paulo
As conclusões são de um relatório de 133 páginas produzido por cientistas da EPA (Agência de Proteção Ambiental) americana e assinado ontem pela administradora do órgão, Lisa Jackson.
O documento, disponível na internet, afirma que as atuais e futuras emissões do conjunto de seis gases do efeito estufa na atmosfera "ameaçam a saúde pública e o bem-estar da geração atual e das futuras".
Além do CO2, fazem parte do pacote o metano (CH4), o óxido nitroso (N2O), os hidrofluorocarbonos (HFCs), os perfluorocarbonos (PFCs) e o hexafluoreto de enxofre (SF6) - o mesmo grupo de gases que o Protocolo de Kyoto, rejeitado pelos Estados Unidos, visa regular.
No decreto, Jackson afirma que as conclusões científicas que apoiam a chamada declaração de ameaça representada pelos gases são "convincentes e completas". A conclusão agora ficará em consulta pública durante 60 dias antes que qualquer proposta de regular as emissões seja publicada.
"Essa conclusão confirma que a poluição causada pelos gases-estufa é um problema sério para as gerações atuais e as futuras. Felizmente, ela segue o pedido do presidente Obama por uma economia de baixo carbono e uma forte liderança no Congresso em relação à legislação de energia e clima", declarou a chefe da EPA.
Jackson acrescentou que combater os gases que causam a mudança climática ajudaria a criar milhões de empregos e a reduzir a dependência americana de petróleo estrangeiro, ao estimular o desenvolvimento de uma indústria energética e de transportes limpa.
Cercando o problema
O decreto de ontem é a resposta da EPA a uma determinação da Suprema Corte dos Estados Unidos de 2007 para que a agência determinasse se o CO2 é um poluente atmosférico ou não. Os cientistas da agência concluíram que sim, mas a administração de George W. Bush suprimiu as conclusões e não fez nada a respeito.
A conclusão da EPA permitirá que os seis gases-estufa sejam regulados pelo Clean Air Act, a mesma lei que limita a emissão de outros poluentes do ar, como o enxofre, independentemente de o Congresso americano aprovar ou não uma lei de corte de emissões.
Foi o Congresso que se recusou a ratificar o Protocolo de Kyoto, ainda no governo Clinton. E projetos de lei que estabelecem um sistema de "cap-and-trade" (ou seja, que limite as emissões e permita o comércio de cotas de poluição) têm falhado em conseguir a maioria de dois terços necessária para sua aprovação pelo Senado. Um deles foi derrubado pelos Republicanos em 2008. Há outro em apreciação na Câmara, cuja aprovação poderia esvaziar uma eventual ação da EPA.
Obama e Jackson têm dito que preferem que o Congresso legisle sobre o tema. Ambientalistas e parlamentares favoráveis ao corte de emissões comemoraram a medida da EPA.
"A decisão vira o jogo", disse o deputado democrata Ed Markey, que está ajudando a definir a nova legislação. "Não é mais uma escolha entre fazer uma lei ou não fazer nada."
"A poluição de efeito estufa de nossos carros e usinas de energia leva a ondas de calor assassinas, furacões mais fortes (...) e várias outras ameaças diretas e indiretas à saúde", disse David Doniger, advogado do Conselho de Defesa dos Recursos Naturais. Referindo-se ao governo Bush, ele emendou: "A era de desafiar a ciência e a Suprema Corte acabou."
Já o presidente da Associação Nacional das Indústrias, John Engler, ataca a EPA. Para ele, regular gases-estufa pelo Clean Air Act "custa empregos" e "impõe mais um fardo a uma economia combalida, fazendo pouco ou nada pelo ambiente".
Fonte: Unisinos / Imprensa MST.

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